Elainne Ourives aponta que o cancelamento pode ser herança genética da história da humanidade, pautada em guerras

Elainne Ourives

De acordo com a autora do sucesso de venda “DNA Revelado das Emoções”, Elainne afirma que essa herança pode estar gravada no DNA humano e repercute nas ações comportamentais e emocionais

O cancelamento ganhou repercussão nacional por meio dos reality shows. Com forte presença de influenciadores, grande parte desses programas trazem em sua essência o medo que essas pessoas possuem de receber um “linchamento virtual”. À exemplo disto, reputação é um assunto frequente entre os participantes da Fazenda 13, ao ar pela Rede Record, inclusive, o polêmico Rico Melquiades criticou os colegas de confinamento por isso.

“Tudo para esse povo é ‘cancelado’, esse povo tem medo de expor, de mostrar a cara, de ser cancelado. ‘A Fazenda’ vai ser com pessoas anônimas porque elas não têm medo de dar a cara para bater. Esse povo que se acha famoso, que não é famoso porque famoso para mim é Anitta e Ivete Sangalo, não tem nenhum famoso aqui. Um monte de subcelebridade, nem celebridade é, se acha. ‘Cancelado’, quem é que vai cancelar, gente? Não dá a cara para bater”, alfinetou o peão.

Reprogramadora mental Elainne Ourives explica que naturalmente o ser humano ainda tende a inclinar para o julgamento e para condenar o outro, por vezes sem olhar para si e perceber que, em grande parte, o que incomoda no outro, pode estar muito mais vinculado a alguma emoção, comportamento e mentalidade interior da própria pessoa que acusa. “Na neurociência, chamamos isso de espelho-neurônio. Ou seja, o que você observa no outro, está, na verdade, em você.  Historicamente, a humanidade se apoiou em batalhas, guerras, conquistas sangrentas por territórios e inquisições infernais e isso, possivelmente, ainda está gravado no DNA humano e repercute nas nossas ações comportamentais e emocionais também”, analisa.

Segundo Elainne, a internet ainda carrega muito essa herança, apesar de virtualizar a maioria das ações humanas. Ao mesmo tempo que o digital é um espaço democrático de ideias, ele também surge como o novo campo de batalhas das pessoas, de suas ideologias e, sobretudo, de egos ainda descontrolados. “Nós ainda estamos aprendendo a lidar com toda a liberdade dinâmica proporcionada pela internet. Muitos de nós ainda confundem essa liberdade da informação com libertinagem, o que gera o conflito interno e uma espécie de dicotomia comportamental. Temos a liberdade, mas não sabemos usá-la para fins mais produtivos e evolutivos.  De fato, ainda estamos nos habituando às leis e normas das redes, e também ao nosso próprio padrão de conduta. Ao meu ver, vamos avançar, amadurecer e criar novos marcos mais sensatos com o tempo. Não marcos de censura, mas de boa convivência e conduta”, diz. 

O problema da cultura do cancelamento

Ideologias diferentes ou um conhecimento dissociado da maioria do público, também estão sendo radicalizados ou cancelados pela massa virtual. “ Discordar de um tema ou assunto é algo natural. Radicalizar e agredir, nesses casos, não demonstra maturidade ou abertura democrática, seja no mundo físico ou nas redes virtuais. Precisamos relevar e aprender a ouvir o contraditório, mesmo que essa não seja a nossa melhor escolha. Na internet, caso você discorde, você não é obrigado a dar audiência ou seguir. Pode até mesmo contrariar o conteúdo, desde que seja de uma forma saudável, elegante, sincera e com base em fatos, não em suposições e mitos ideológicos”, aponta.

A reprogramação mental lembra que essa  ação pode deixar marcas emocionais, físicas e financeiras, já que os cancelamentos não costumam distinguir a necessidade de punição com inquisição. “A internet é, sobretudo, um mecanismo democrático de liberdade de expressão, de abertura às diferentes ideias e opiniões. Ao mesmo tempo, ainda é um território vago, sem uma legislação tão clara, apesar do estabelecimento no Brasil do Marco Civil da Internet. Cada caso é um caso e tudo deve seguir um princípio de proporcionalidade, para não cairmos na instância do radicalismo e da inquisição”, alerta.

De acordo com a especialista, as punições devem ser medidas a partir da lei, ou seja, das normas e dispositivos legais, visto que a tentativa de “justiça” sem esses meios se transforma em um campo de guerra, de ódio e de vingança. “É necessário medir os fatos, calcular as medidas cabíveis e convocar as autoridades para tanto. Obviamente, a internet também evoca um espírito justiceiro nos internautas. Entretanto, isso não deve ser confundido com perseguição, agressão, ofensa, achincalhamento físico, moral e emocional. É preciso lembrar que o ódio leva apenas ao ódio. A revolta às convulsões sociais e, nesse caso, às ebulições digitais, tendem a transpor a fronteira do mundo virtual para, em vários casos, decair no mundo real, no cotidiano, afetando, muitas vezes, pessoas sem relação com a parte mais envolvida”, diz.

É comum que não apenas o cancelado sofra, mas também amigos e parentes da pessoa envolvida. Nos últimos meses, por exemplo, diversos nomes que participaram do Big Brother Brasil relataram temor pela própria vida ao sair do programa. “Mesmo após ter sido eliminado, mesmo após o programa ter terminado, as ameaças de morte não param de chegar. Desanimado com tudo isso”, relatou ao ser eliminado, em 27 de abril.

“Existem casos de pessoas e personalidades que entraram em depressão, faliram e foram agredidas de diferentes maneiras. Por isso, é necessário agir com a razão e com o amparo legal, para não haver qualquer nivelamento comportamental por baixo, vil e agressivo. O mundo, seja o físico ou virtual, precisa de mais tolerância, sensatez e argumentos lógicos na dissolução de seus dilemas. Mais razão e menos cólera”, defende.

Como lidar?

Elainne Ourives  aponta que quem é agredido em circunstâncias como essas deve procurar a própria defesa inicialmente, ou seja, se respaldar legalmente e judicialmente. “O próximo passo é tomar uma postura diferente. Caso tenha convicção do próprio erro, deve assumi-lo, aparecer nas redes, evidenciar o pedido público e virtual de desculpas. Um terceiro ponto importante,  que dará respaldo para a recuperação da imagem, é mudar a postura e os próprios comportamentos diante do episódio, desde que tenha convicção de que, realmente, errou e se posicionou equivocadamente”, alega.

A reprogramadora mental lembra que não é possível evitar a opinião ou o comportamento de outras pessoas, mas é possível olhar para si, analisar comportamentos, observar opiniões bem como as reações emocionais e atitudes mais agressivas também expostas nas redes sociais. “Assim é possível modular e equilibrar mais a dinâmica virtual do cotidiano. Eu sempre sugiro às pessoas ou personalidades que conheço, com alguma dificuldade nessa relação virtual, a questionar se vale a pena sempre antes de qualquer ação, postura ou opinião pública mais intensa. O nível de radicalismo na internet ainda é muito elevado e a tendência é aumentar ainda mais nos próximos meses e no ano que vem, em 2022, devido ao ano eleitoral”, alerta.

Após o cenário mais grave da pandemia e do medo generalizado internalizado, o debate nas redes deverá ser mais intenso e, em muitos casos, mais agressivo. De acordo com Elaine Ourives isso forma uma egrégora de energia ou campo invisível de energia da discórdia, que também ressoa na consciência geral. “Todos, sem exceção, são afetados. Assim, a minha dica é pegar mais leve, manter opiniões mais atenuadas, evitar debates ou discussões mais fervorosas e focar no positivo. Caso o cancelamento seja inevitável, por algum ponto público de desavenças, busque apaziguar, reavaliar o próprio comportamento e atentar-se aos seus direitos de defesa também”, diz.

Compartilhe isto

Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn
Share on whatsapp
WhatsApp
Share on email
Email

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Últimas notícias